Atelier Heráldico

Visconde com Honrsa de Grandeza de São Leopoldo.
O desenho original deste brasão tem uma história curiosa e ao mesmo tempo inusitada, dada a gravidade de certos erros cometidos nele. Este desenho se encontra registrado no livro "Nobiliário Riograndense", que é uma relação da nobreza que o Rio Grande do Sul teve.

O Dr. José Feliciano Fernandes Pinheiro, Visconde de São Leopoldo, tinha o título de "Visconde com Honras de Grandeza", que era um título intermediário entre Visconde e Conde, e que no caso dava-lhe direito a desenhar seu brasão ostentando uma coroa de Conde. Porém, o desenhista que criou esta imagem (não podemos chamá-lo de heraldista por causa de certas imperícias dele) cometeu uma gafe de proporções policiais e diplomáticas ao desenhar no brasão do Visconde uma coroa de Duque. Hoje seria o mesmo que um prefeito de uma pequena cidade se apresentar como Chanceler do Brasil perante a ONU. A ordem crescente dos títulos nobiliárquicos é: Barão, Visconde, Conde, Marquês e Duque. O Brasil (enquanto Império) só teve dois Duques e duas Duquesas. Um dos Duques era o Duque de Caxias, o outro ganhou o título mas não vivia no Brasil, e as Duquesas eram filhas ilegítimas de D.Pedro I, sendo que uma delas morreu aos 3 anos de idade e seu título nem chegou a ser registrado e oficializado.

Mas a pior parte não é a gafe do desenhista do brasão, mas sim a de que o próprio Rei de Armas do Império (o responsável pelo próprio Imperador D.Pedro I para fiscalizar o correto uso dos brasões heráldicos dos nobres do Brasil) registrou e firmou como sendo correto o desenho.

Na descrição textual heráldica do brasão constava apenas que a coroa heráldica seria uma "...coroa de ouro...", porém, não disse que era especificamente uma coroa heráldica de Visconde.

Entretanto, qualquer artista entendido nas regras heráldicas saberia que se o cliente fosse um Visconde, que seria então uma coroa heráldica de Visconde que deveria ser desenhada, e não uma de Duque.

Tanto desenhista quanto o próprio Rei de Armas erraram, e erraram grotescamente.

Coroas Heráldicas, do mais baixo ao mais alto grau.
1 - Barão 2 - Visconde 3 - Conde 4 - Marquês 5 - Duque

Por sua vez, o próprio Visconde chegou em Porto Alegre e mandou fundir seu brasão no portão de ferro da entrada de sua mansão (hoje o "Solar dos Câmara"), algo que está lá até os dias de hoje. Ao que parece, ninguém em Porto Alegre de sua época entendia também de heráldica, pois o brasão foi fundido sem ninguém notar o erro. Por conveniência ninguém poderia dizer que algo estava errado, pois se o próprio Rei-de-Armas do Brazil havia dito que o desenho estava correto, então não deveria haver erro mesmo. Ainda por cima foi também fundido com os animais posicionados invertidos na horizontal, como se pode notar na imagem ao lado.